A indesvendável
-O início
Não havia exemplo de carinho,não havia a sensação dum conforto. Não poderia saber como era.
Eu ouvia apenas os rugidos, por que por costume, eu parara de entender a língua das palavras. Preferia os animais, então os imaginava como tal. O mundo era uma selva, com árvores ao invés de móveis, e eu poderia escutar os ruídos com que me identificava mais. Meneava a cabeça pelos cantos, como um tolo, parando a cada paço para imaginar tudo diferente, uma proximidade com o meu verdadeiro ser, um lobo, um cão ou um leão, Quem sabe uma capivara? Tanto faz, só queria estar perto de meu ser e transcender o animal que queria sair dali, e caminhava... Mais lentamente do que devia. Eu não tinha medo mesmo, de que alguma pilha de livros caísse sobre de repente, ou estilhaços de madeira maciça estourada por "alguma" mão, de um "certo" gigante voassem na minha pele fina, o perigo estava em forma de animais selvagens que, que eu podia me esconder facilmente no meu território. Os ruídos eram de uma verdadeira floresta amazônica, ou quem sabe um paraíso ocasional. Pois então, era assim que era e pronto. Via os macacos jogando cascas de banana em mim em zombaria, e o vento espalhando folhas mortas propositalmente em minha cara (como se houvesse algo morto numa floresta tropical úmida...) Adapto a cena, agora passo por um bosque inglês, (por que não?),e as folhas de outono são plausíveis, trazidas pelo vento outonar recente, onde ainda sinto o cheiro das últimas flores que irão murchar nos jardins mais próximos, que se afastam a medida em que adentro as árvores com um odor adocicado deste país, os sons são mais delicados que os do que os macacos da floresta tropical, como um choramingo... Ou um chuvisco. O farfalhar dos salgueiros são como uma canção doce e feminina. Caminho livre do meu mundo, em meu próprio universo, ininvadível.
Minha imaginação não era tão forte, mas era difícil de ser invadida. Ouço um gemido dolorido distante, provavelmente de um animal ferido, eu não o planejara pois odeio tal som, porém porque duvidar que o cérebro, se tornara um aliado e recriara a cena pra mais realista possível? O piar fica mais agudo, e eu começo a alternar entre querer matar o cérebro, e matar o animal. E o improvável acontece quando garoar fica mais violento, se transformando em uma chuva, como uma chuva leve no início. Meus sonhos imaginários acordado, minha fuga da realidade fora invadida. Com uma brutalidade absurda a chuva que anseia a cair alcança-me de vez em uma lufada de vento avassaladora. Alerta de vírus. Odeio quando isso acontece.
Minha imaginação não era tão forte, mas era difícil de ser invadida. Ouço um gemido dolorido distante, provavelmente de um animal ferido, eu não o planejara pois odeio tal som, porém porque duvidar que o cérebro, se tornara um aliado e recriara a cena pra mais realista possível? O piar fica mais agudo, e eu começo a alternar entre querer matar o cérebro, e matar o animal. E o improvável acontece quando garoar fica mais violento, se transformando em uma chuva, como uma chuva leve no início. Meus sonhos imaginários acordado, minha fuga da realidade fora invadida. Com uma brutalidade absurda a chuva que anseia a cair alcança-me de vez em uma lufada de vento avassaladora. Alerta de vírus. Odeio quando isso acontece.
Levo três segundos desnorteantes para perceber que a lufada vinha com gotas perfurantes de água gélida, tudo começa a desmoronar, os galhos começam a ser arrancados com força das árvores a instantes se pareciam mães indirrubáveis, eram lançadas aos ventos, como suas folhas. Me sinto traído. O uivo que se estende é de cegar os portais da alma, gelar as artérias principais do sangue, parar o coração que bombeia, escurecer os mais claros pensamentos. Um grito como piar de ave negra se segue,como que por anunciar o fim de meu sonho acordado, a tempestade acorda no horizonte e a volta de mim em agonia com aquele grito. Meus ouvidos quero arrancar. Quantos anos eu tenho? Qual a minha cor? Como é a fisionomia do meu sorriso, a textura dos meus cabelos? Não me lembro, só do medo a que estou acostumado quando o sonho acaba. Sinto que as árvores, transmitiram falsa segurança a meu coração só para me trair, para serem vaporizadas sem nenhuma resistência, avassalador era o vento, que tudo podia fazer. Todos me traíam a confiança afinal, tudo me deixava terminar encolhido, tentando me proteger da destruição, do caos. Encolhido. Esta destruição demonstrava poder a minha volta, com todo o seu terror vindo de fora da minha mente, imposto ali de alguma maneira, e eu não queria abrir acordar para ver o que o fazia no mundo real. Como poderia, não havia proteção para isso, não queria ser desmassagado como as árvores pela realidade, quem seria, oque seria minha força?Tomo minha decisão mais premeditada diante dos uivos e dos gritos animalescos. De agora em diante eu passaria a confiar no vento, só e somente no vento, oque poderia destruir aquele que destruia? Era a tentativa mais segura sair dali, eu precisava me apoiar em algo, mesmo na minha imaginação. Seria aliado da tempestade, do caos. O único poderoso, e forte o suficiente. E o medo? Eu, me tornaria como tal para vence-lo. O bosque não seria mais minha desilusão. De olhos fechados esperando o berro agudo da tempestade acabar, ouço o choramingo, um uivo fino que persiste em meio aos detritos,assobiando entre as folhas secas e entrelaçado aos ventos. Que ódio eu sinto do choramingo, tudo com ele começara, e tudo com ele terminara a minha fronte, mesmo com os olhos fechados eu o via, ali estava. Ódio avia dentro de mim pelo chorar, pelo lacrimejar, pelo som que anuncia levemente a chuva. A raiva negra profunda, por que haveria motivo a barrar? A tempestade e o tornando que se estendia, agiam furiosamente, sobrepondo seu poder e sua força por todas as coisas em seu caminho, sem medo, sem se encolher. Como as flores frágeis, ou a falsa segurança insistente dos maiores salgueiros, que ensinavam que de nada servia as aparências. Não julgue-me! Como eu poderia me ater noutra coisa?
Caminho pelos corredores muito vivos, com pinturas manchadas, deixadas aqui pelos antigos donos. Não poderia é claro ser comprado por minha noz, pois os cães que latiam lá fora gostavam mais de arte do que noz ou as nossas baratas. Chuto um sapato velho que me faz tropeçar no caminho, e continua a caminhar trôpego ao som da nossa música clássica ambiente, como habitual (gemidos e chorar incessantes, pós furacões invadidores de sonhos) Pareço em um corredor sem fim, sendo a casa pequena, ao dobrar uma esquina (isso mesmo, uma esquina dentro de casa, em quarteirões infinitos), e bater a cara de boca no Gigante. Sua camisa é úmida, e olhar azul morto, a barba é parecida com a floresta de que eu saí, só que a versão tropical e há noite. O cheiro azedo "cítrico" é insuportável, e combina com o podre e o amargo. Não suporto mais sustentar seu olhar de peixe morto e continuo a caminhar por nossa orquestra sinfônica. Oque espera? Há música, há decoração, há perfume no ar para os mais aciados e que exigem aromatizador de ambientes, e tudo o mais. Saio na sala ainda mais trabalhada e decorada, pego a bolsa escorada na parede ao fim do corredor curto interminável que deixara para traz, e ando o mais rapidamente possível até o hall de entrada, escrito ''saída" em vermefurguês acima da porta, e ao passar releio "entrada" em fungonês cancerígena anunciando o hall de entrada estimulante, que leio de volta todos os fim de tardes pra aumentar o ânimo. Entro me escondo e durmo. Mas por enquanto ainda não, vou entrar em meu novo lar/colégio em que passarei minhas "tardes de lazer" aprendendo a contar números aleatórios e escrever palavras aleatórias. Humff...
Tomo minha injeção de estímulo, e dou um passo a frente, ignorando nosso jardim "florido" com garrafas de conteúdo cítrico, (esta é especiaria secundária bebível okay?) e baldes de desinfetante aposentados. O vizinho não muito mais sofisticado do que o resto do bairro, mas aparentemente limpo e barbeado, bota dois filhos, um menino da minha idade e uma menina mais velha na caçamba de uma caminhonete.
- Por que motivo não posso ir a pé como ele?!- Ela aponta quase tão inocentemente como o irmão da minha idade para mim em relutância ao pisar na caçamaba com os braços dele ainda a envolvendo. Eu estrangulo meus cabelos pretos e cheios como carvão bagunçado em uma churrasqueira que não pega, como se não fossem revoltos o suficiente. Quanta inocência... e ela é mais velha que eu.
- Por que eu posso leva-la de carona em uma picape radical, que tal?- Ela faz um sorriso meneando com a cabeça a caminhonete alto com a tinta laranja descascada . Numa careta d eambos, ele percebe que ela já passou dos dois anos e na cara reflete a decepção e incompreenção, e retrocede: - Por que é muito perigoso para você, eu já ouvi falar, tem um homem com um saco muito perigoso por aí, procede? - Ela se assusta, como que reconhecendo a história, tola... penso eu, mas não, sortuda... Depois lembro-me da tempestade e do meu desejo: Não, burra... ingrata...
-Vamos. - Diz ele - Não é seguro ficar enrolando por aí com esse ladrão de crianças há solta.- Ele olha rápida e severamente para mim, em desaprovação, deve achar que eu não percebo, pois em sua cara de vômito, regorjita imaginariamente enquanto vira de costas para mim. Estou limpo, tomo banho por conta própria a quase um ano, mas o olhar de desaprovação dele não condiz há isso. Condiz a meu respeito, minha suposta criação, e quem eu provavelmente sou ainda aos 8 anos. - Pequeno delinquentizinho...- Ouço entredentes, e baixinho.
Me lembro da tempestade, fria e avassaladora, penso em cortar os pneus, mas caramba como eu adoro picapes... Era uma humilde caminhonete comum em regiões próximas ao interior, eu deveria caminhar muito até chegar ao colégio/tortura, que me aguardava com faixas e troféus para o primeiro dia, no meio do ano, após a última expulção com 8 anos. Mas eu pouco me importava verdadeiramente com o fato de ser uma picape ou não, poupara os pneus por outro motivo: eu podia me enrolar todo em caos e correntes de ar torrenciais que não conseguia. Não conseguia mudar quem eu sou, de modo algum. Somente encenar. Encenar quando alguém via. Quando eu podia me libertar de minha covardia. Quanto entendia uma mente daquela idade... O suficiente, eu repetia pra mim. Não que eu fosse tão reflexivo a ponto de me perguntar, já fizera essa pergunta antes, outro rosto do mundo a poucos quarteirões no meu bairro, que eu fura expulso a um mês atrás, que passei em prazerosa reclusão trancado em casa com O Gigante. E com as mãos gigantes dele, e os olhos mortos, e a barriga predominantemente habitante de todo o mundo, e também os pés, e os braços... E de novo as mãos, Que Aterradoras Mãos. Enormes, fortes, mas não podiam ser minha inspiração pois eram um exemplo de descontrole, e eu precisava ser firme, como o caos? Você pensa, mais que ironia. Mas não pra mim. Voltando a lembrança que me invade enquanto percorro a calçada sinuosamente e de maneira metódica, olhos para baixo. Despertando por onde passo olhares, que se não de nojo, de pena. Dos vizinhos que olhassem pela janela ou saiam para recolher o jornal. "Olhe o menino mal cuidado cujo os cabelos carvonescos cobrem todo o rosto,e de que jamais pode ver os olhos. Olhe o filho do demônio, oque destroi, oque vive nos becos. Olhe a cria diabólica da casa do caos, o delinquentizinho..."
Me permito entrar na memória que me invade, já que preciso pensar na'alguma coisa, e os meus sonhos resolveram entrar em colapso e serem invadidos por gritos agudos e reflexões inquietantes.
- Levante a cabeça Louco!!!- Berra mais um estranho que me observa ocasionalmente ao passar pela rua. Ignoro.
O rosto de Bete quadrada, que tinha cabelos castanhos repicados e espalhados no rosto rígido espalhafatoso, e por isso talvez motivo de tantas piadas, por ter as feições quadradas, me encarava inquisidoramente, com os meus dois ombros (gravetos ao redor das mãos dela, acho que ela era repetente, mas nunca me preocupei) em volta dos punhos grossos. E a pergunta não só nas cordas vocais ásperas, mais nos olhos.
-Quanto você acha que entende uma mente na sua idade?- Pergunta ela, após explodirmos todos os mictórios do banheiro masculino, e sanitários do banheiro feminino, com a ajuda de mais três meninos do último ano, que acho que ela conhecia bem (talvez ela devesse estar com eles...). As pias pendiam das paredes, com os canos estourados ás mantendo inclinadas e presas ao concreto, a água cobrindo os nossos pés chegando lentamente até o calcanhar, se espalhava, es se estendia em torno do corredor. O barulho dos gritos nos seguia, e estava cada vez mais perto. Pitt, Brad, e Staphan, já aviam corrido e pulado os muros, queriam apenas se vingar da figura de ódio que construíram do Diretor Brown, o matavam silenciosamente a cada dia. Bete sabia que iriam ajudar pois não aguentariam por muito mais. Queriam apenas uma diversão. Eu queria muito mais, atenção. Precisava. Era complicado... pois ela também havia feito isso, e fizera esta pergunta. Quase incompreensível ela era. Mas não havia tempo, noz dois sabíamos oque viría a seguir. Nossos subconscientes queriam nos abraçar fortemente e dar um adeus final. Mas não éramos assim. Tínhamos um laço, algo que a maioria tinha ali que nos unia, nos tornava um. A história. Todos eramos muito novos e cada um tinha sim uma história. Diferente dos alunos do outro lado da cidade, para onde sabíamos mutamente para onde eu iria terminar. Com o tempo se esgotando e a verdade se aproximando, eu lhe devia uma resposta, pela união silenciosa que a gente tinha naquele lugar, pelo adeus. Por tudo.
-Eu entendo do caos. Da necessidade de imita-lo Betsi.- Só os meninos da Quinta Série e eu a chamávamos assim. Não tinha nada haver com nossa diferença de idade, ou "semelhança intelectual" (como diria o Dr. Brown Bosta), e sim com o fato de que eramos os únicos que não a chamavam por "quadrada" ou "ogra". Ou "fiona", ou "cabelo de sabugo", "espinheiro", "mulherotauro", "garotosapiens", ou homohabilis do Streetfall (colégio). Ou... bom tanto faz, o normal era cara quadrada, mas evitávamos chama-la assim, pois quando o nome pegou, já a chamávamos pelo nome de origem. Somos bons em não seguir a "matrix" ou a "modinha", sentimos nojo. Sentíamos... Compreendo, e luto para sair da minha antiga visão. enquanto o Dr. Bosta entra transtornado e tão ameaçador como uma vara de bambu virada (não serviria para montar uma pipa), e as crianças e quase pré-adolescentes invadem todo espaço molhando a barra de suas calças enlameadas despreocupadamente, como se já estivessem no banho... Rindo não sei do Diretor, ou da situação do banheiro, ou de nós dois. Elizabete Brown, (sim a verdade era aterradora e só nosso pequeno grupo sabia) me olha com tristeza, decepção, pesar, adeus, pré saudade? De modo estranho pela primeira vez na vida, e é um olhar que nele não entendo. O pai olha para criança renegada com desprezo, sabendo que com a filha secreta não poderia fazer nada a respeito. É cada um com a sua história, e eu avisei que tínhamos, mas ela teria tanta vergonha quanto ele, e mil vezes preferia morar em orfanato após a morte da mãe, e adotada pela a tia rabugenta materna aos seis, recebendo pensão mensal a distância segura e amarga, há morar com esse verme.
De repente a face enojada dele se volta bruscamente para mim, e se lembra de que têm em quem descontar. Bete quadrada usa a cara de taxo habitual nova e friamente. Na maior calma do mundo sai a passos largos ignorando alguns murmúrios de "mulherotauro" que saem do meio da plateia covarde. E ao ser levado arrastado por aqueles dedos finos, que só eu sabia quão força tinha (pros meninos eu fazia uma cena sobrenatural) Eu sinto o êxtase, o frenesi das risada. A comoção, a liberdade. Me lembro de pular a janela da sala enquanto ele me solta pra fechar a porta, escalando as janelas de baixo pra não cair do terceiro e último andar e me espatifar como um "omelete Hans". Corro pelo bosque canadense como uma gazela feia e desengonçada, sabendo que fui expulso de qualquer jeito e chegando em casa vou levar uma surra descomunal, mas estou feliz mesmo assim. A única felicidade que em mim acendia era momentânea de qualquer modo.
Não me lembro de mais nada. Vejo o maior muro impulável que meus olhos já alcançaram, a faixa que servia de fachada não era nada sofisticada, mas bem melhor que minha antiga "moradia das tardes" sem identificação além da lama característica do interior do terreno onde as crianças brincavam.
Ótimo, o Dr. é o Brown Bosta, e o colégio poderia ser "School Coconut Mud Canadian". Sentia o suor escorrendo do meu peito dentro da camisa, e os espinhos dentro da minha coluna, saídos da bolsa que ficara mais pesada no quinto quarteirão e piorara até eu perder a conta. Crianças "normais" brincavam na esquina a frente, na velocidade de um jabuti, tão despreocupadas como a brisa. Eu sai cinquenta minutos antes do normal para chegar nessa prisão nova particular, e sabia que seria assim todo o dia. Mas tanto estava acostumado a correr e fingir liberdade que não me importava com as gotas de suor. As meninas na porta se importava... Se afastaram tampando o nariza da portaria e entraram para as salas mais cedo. "Pelo ao menos na antiga espelunca todo mundo fedia..." Penso eu cruelmente. A brisa passa suave, diferente de em meu sonho acordado, e eu cansado, resisto a inspirar profundamente e espantar o meu caos interior por um instante. Ignoro as vontades e apelos comuns ao ser humano e me lembro: Força, firmeza, inabalável como a tempestade, aquela que abala,que destrói, ela não pode ser destruída porque destrói. Me atenho a isso, para entrar sem medo, e sem demonstrar nervosismo, (aprendido com Pitt carranca) levanto finalmente o rosto e mantenho o maxilar firme, olhos para frente, mas não resisto a amaçar meus cabelos por sobre eles, quero disfarçar a semelhança com O Gigante para não ser reconhecido aqui.
Entro e odeio a visão asfaltada e organizada, parece que alguém viveu para cuidar daqui durante anos. Sem regalias, mas impecável. Sem querer conhecer a sala de lazer selecionada especialmente para mim e minha nova turma, tenho que botar um toque alá'Hans nesse hospício. Entro correndo a passos leves e controlados, aproveitando minha antecedência por morar longe, e jogo a bolsa atrás de alguns arbustos que cercam o campus bem organizado e limpo. "Não por muito tempo" . Aumento o passo e o deixo mais rígido e pesado, atravesso os prédios desconhecidos (parece uma arquitetura diferente, de prédios encaixados um ao outro pra formar uma estrutura) Por isso da a falsa sensação de espaço e labirinto, mas me sinto bem e vivo, chegando cada vez mais perto dos limites e das costas do edifício, até encontrar oque queria. Tiro o canivete dobrável do meu bolso, e aperto o botão metálico que o liberta, e juntos gritamos nossa liberdade pegando um dos sacos de lixo da pilha e rasgando sem descaso ou preocupação. Sorrio maliciosa e deliciosamente, e faço oque faço de melhor, era a minha dança, eu corria, e corria, sem me cansar ou olhar para frente, eu precisava do êstase, da euforia. Porém eu não olhava para frente como se conhecesse os arredores,correndo pelos corredores de minha casa, nos becos do meu bairro, ou nos muros da "School Coconut Mud Canadian".
Não houve som, nem dor, só estrelas...
Eu abria os olhos seguindo pássaros imaginários sentindo um martelar descomunal na testa. Eu sentia o gosto do ferro da barra de segurança que não permitia ultrapassar a minha frente, era uma portão em grade grossa com uma placa plausivelmente posta ao lado do tamanho do meu tronco, Não ultrapassar. . Ironicamente não tinha uma dessa do outro lado oque é uma discórdia. Não tenho tempo de refletir sobre minha má sorte, ou a burrisse de quem quer que tenha feito isso. A minha frente se estende alguém que tem a chave para a grade, parece ter a chave para todas as coisas, eu não sabia explicar, ela somente transmitia isso. A minha frente parecia de enorme altura,olhando acima de mim. Com cabelos negros que se estendiam além dos ombros, sentia que eles iam engolir a mim. Os lábios vermelho escuro, os olhos gentis. Eu esperava o imediato olhar de repulsa que estava por vir, ou o premeditado insulto. Mas não veio. Eu involuntariamente levo a mão a testa, levantando um pouco meus fios escuros acidentalmente, que percebo serem um tanto quanto parecidos com os deles. Uma pontada de dor, a muito tempo não percebida. Observo os olhos escuros como o couro cabeludo fértil como uma plantação de batatas mexicana (não pensava em comparações mais sofisticadas).
-Belos olhos você tem- E eu tiro a mão da cabeça imediatamente, cobrindo-os com os fios revoltos furiosamente com uma mão. A outra porém ainda estava ocupada. Oh Oh.Desvio a preocupação do canivete inquisidor na minha mão e do lixo atrás de mim. Veja o céu Han hansinza, veja como é extenso, e o ilumina como a pupila dos seus olhos, veja... É seu verdadeiro pai... Sacudo a cabeça, tentando espantar a dor, junto com a memória de minha Avó e de minha Mãe quando mais novo. Antes que minha Mãe tomasse a decisão repentina, de se tornar um estreante de The Walking Death sem salário, e minha Avó falecer. Ao menos ela mantém a boca calada, e sorri, não sutilmente como elas, respiro. Dá um sorriso enorme contemplando o céu aberto (que eu odeio, pois me torrara lá fora), e abaixa os seu par de escuridão café para mim. Eu observo em terror. Mais terror do que se cuspisse em mim (com habitual). - Está tão assustado assim com meus olhos?- Eu movimento a cabeça dum lado a outro em negação, sem me livrar do olhar de ratazana assustada. -Acalme-se, meus cabelos não vão te engolir. Espero ela pirar com a cor dos meus olhos e depreda-los, taxar-me de cria do demônio. Novamente, não veio. Ação descomunalmente incomum, e semelhante. Sito o deja vú, e a pontada de medo fincar- se na minha alma. Ela observa o céu ao ver meus olhos, como minha mãe, e minha velha avó fazia.
É tão distante a demonstração de carinho que ela demonstra. Ta certo, ela nem tocou em mim, não a conheço, seu sorriso pode ser sinal de pedofilia considerando quem eu sou. Mas não resisto a querer sorrir por dentro, é o único som além do silêncio e da depravação, ou do questionamento, que ouvira em anos. Anos e anos, cada mês era um ano. Eu não sabia a matemática correta, mas eu daria um século para meus 8 anos de vida e meio. Por isso precisava das risadas, o silêncio era ensurdecedor, a raiva preta chegava ao ápice com os insultos. Umas hora eu precisava de um espace, de uma fuga, de alguma fonte de adrenalina depois de ficar preso, horas na minha orquestra sinfônica deprimente em casa, perdido em pensamentos e aflições, e reflexões impróprias pra minha idade, era a vida. Era o ódio. Eu estava sozinho
Ela abaixa alguns centímetros e eu realmente sinto medo do cabelo dela ao deslizar sutilmente sobre meu rosto, por um instante. me afasto empurrando meu corpo com uma perna, e involuntariamente pondo a frente de meus rosto o canivete. Não fora minha intenção, mas ela não explode, olha nos meus olhos, ou nas fendas entra eles. Os encaro também, o suor do nervosismos se mistura ao do sol.
-Vamos me dê...- Serena como a pálida lua. É a dor de cabeça ou quase o estendo? Caio em mim, nem brinquei com ela ainda, eu ia perguntar estúpida e sarcasticamente do que se tratava. A expressão dela se torna firme, mas os sorriso continua nos olhos, sinto o desespero Deja Vú me alcançando. Desvio arrancado da ideia.
- Como fez aquilo?!- Pergunto, meio que acusando, me sinto meio a meio com os monstros que me perseguem e me corroem, e assim ela consegue me fazer sentir mal. Mas persisto: - Como?! Ela me olha com compreensão, mas não compreende oque estou dizendo, compreende a mim.
-Pode me dizer oque meu príncipe? - Meu coração para. Gela e descongela. E se super-aquece, e esfria de novo. O ciclo se repete. Começo a me comover e luto com todas as forças para continuar o diálogo.
- Oque você FEZ! Como olhou meus olhos!- Eu a acuso. Sinto o latejar na minha cabeça se confundindo e se fundindo a confusão, e ao martelar da dúvida e medo. Como ela ousava derreter meu coração?? Derreter camadas e mais camadas de gelo, e uma armadura com detritos da crosta terrestre? E o infindável, "Por Que?" Mar-te-la-va, em minhas artérias. Quem era, que poção mítica se afundava nos olhos infinitos café dela. Ou a voz macia que transmitia calor e segurança. Eu era ninguém. Para quem eu representava algo ou me reconhecia em alguma coisa eu era apenas "a cria do demônio", o filho de um estranho que se esgueirava pelos becos de um bairro pobre, bebendo e remoendo os erros e o passado em que vandalizara patrimônio público. Zombeteiro expulso de agora dois colégios, aos oito anos de idade. Oque faria aos dezoito?
-Eu apenas contemplava o seu par de joias raras minha criança, raríssimas aliás.-Eu apoio os dois cotovelos no chão em desafio, ainda segurando a faca de um gume. Ela parece nem notar, ao contrário os ventos que eu gosto parecem se agitar a favor dela, passando por seus fios cheios carvão mas não nos meus. Sinto uma ponta de inveja por meu elemento favorito. Como se sentisse, um canto do seu sorriso aumenta quase imperceptivelmente e a brisa afaga sobre mim, bem nos meus cabelos, como os dela. Sinto-me abençoado, e ao mesmo tempo aterrorizado. Mas logo sacudo o pensamento da minha mente, é impossível. Ainda na pose, persisto:
-Não é o suficiente.- Como pode? Ela compreendeu de primeira.Vejo por seu olhar. Sem arrogância, sem reflexão desentendida. Quando sua voz sai após um breve segundo, meu sangue quase para de correr.
- Tudo bem, o céu trouxe com sigo uma lembrança, e também os seus olhos. Mas é distante, distante da sua idade, e do seu nascimento.- Tamanha é a sinceridade no som emitido. Me sinto completo perto da presença de espírito dela. Dela não. Deste novo ser . Incompreendível. Indesvendável.
Emito um som abafado, como um susto, e vejo que ela contém uma risada rapidamente, como já vi várias vezes, mas esta não tem maldade. É limpa. Limpa da zombaria e das trevas.
-Humff.- Emito o som arrogante, mas meu coração não diz isso. Ela percebe.
-Pode confiar em mim- Ela está estendendo a mão. Não a medo de que eu enfie o canivete em seu peito com fiz com o lixo. Não que eu jamais cogitaria em fazer isso com um carrapato barrigudo, mas a 7 km desse lado da cidade, eu seria o "delinquentezinho". O modo com que se referia ao passado... Mal percebera as rugas escondidas atrás de seu sorriso, tamanha a sua beleza. Tamanha era todas as qualidades chamativas nela. A sinceridade nas palavras, aquela coisa que a mulher mais alta que eu 80 metros acima (de acordo com o cérebro) transmitia simplesmente, como troca de energia. Mas eu não tivera jamais exemplo de ceder algo a alguém ou quem sabe alguma coisa. Jamais me rendia ou cedia ao menos uma emoção aos pássaros. Mas este ser humano da face pálida como a lua, e iluminada como todas as estrelas do céu, coberto com um manto de céu noturno até a última vértebra da coluna... Já me arrancara simpatia. E eu não podia evitar, odiava a desconhecida por isso. - Você é livre.- Suspiro abafadamente. Oque? Que palavras deslizaram por seus lábios cor de vinho até meu ouvido transportadas pela brisa.
Nunca pensara na liberdade como o oposto da rebeldia. Como a escolha entre querer, e não querer demonstrar alguma rendição, ou negar um sentimento de covardia por fazer algo nem tão delinquente . Ela me pega de surpresa. Eu me derreto a esse novo ser alien que me buscou não só nos fundos desse prédio, como no poço mais escuro, do fundo mais profundo, dentro de minha própria mente. Outra alma além da minha estende a mão para ela. O ciclo de gelo e frio do meu coração recomeça. E em troca, ela me estende uma vassoura da pilha de utensílios de limpeza também insuportavelmente organizada da escola. Esqueço-me da presença dela, e faço uma careta de agonia disfarçada ao perceber que fora tudo um truque do alien. Mais uma vez ela demonstra que não foi, qual ingênuo sou, e todas as pessoas que já conhecia na vida. E num ato nobre e assustador (confirmando a suspeita de pedofilia), se abaixa sutilmente enquanto eu me levanto com a vassoura numa mão, a palma esquerda na testa em dor, tomando cuidado para manter os olhos bem apertados (oque não é difícil, considerando a marreta voadora incessante no meu crânio). E naturalmente, como se fosse uma prática habitual e nos conhecêssemos a anos, beija meus lábios. Alerta, coração você não vale de nada, minhas artérias pararam o funcionamento novamente. Volta a vida. Eu ouvira de mães no lado sul do planeta que beijam seus filhos na boca como forma de carinho, (sem saliva, sem língua e seguramente sem contato labial extenso) porém isso era excessivamente incomum na minha realidade. Para um alien, talvez em seu planeta da lua seja normal, penso. Além disso, além da minha covardia e susto, tal prática se tornara ato de carinho incomum até em famílias normais do Canadá, ou do mundo. É definitivo, ela veio num cometa.
Confirmando suspeita de pedofilia, e atitudes maternais de bolso surpresas que acabara de demonstrar, ela faz um cafuné que bagunça todos os meus cabelos, já revoltos, sobre minha face petrificada.Um sinal toca como uma campainha ensurdecida. Alien faz um sinal pro chão com um sorriso descarado, guardando a faca num bolso imaginário de seu vestido azul celeste colado ao corpo, que a cabe como uma luva, e em seguida o enfia no blazer feminino. Percebo pela primeira vez as roupas ''sofisticadas'', combinando com aquele ambiente, não possuía nenhuma regalia. Mas era perfeitamente selecionado para combinar com o tom de pele e cabelo incomuns, encaixando em seu corpo como uma peça lego que termina um edifício. Mulherzinha ajeitada penso feito o abutre gordo que sou. Já sei, ela é como o anti-cristo da vida real (não, eu não ia com nenhum centímetro da bíblia), só que anti-Sr. Brown. Se ele era personificação de "O bambu torto mal vestido" ela era um arcanjo perto dele.Volto a mim e começo a varrer ,perdendo alegremente o primeiro horário de aula-de-não-sei-quem. Mas ainda incontente.
Os anos que se sucederam forma bem interessantes.